quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Dores

Às vezes, acontece assim: começa a doer-nos um dedo da mão ou talvez a canela da perna e damos pela presença de uma pequena farpa de madeira encravada no dedo ou pelo desenho vivo de um arranhão na perna. Não sabemos como aconteceu, porque na altura não doeu. Há muita coisa de que não nos apercebemos até doer. Depois, já que a dor é uma consequência, tentamos encontrar a sua causa. Recuamos no tempo e fazemos um esforço de memória para nos lembrarmos daquilo que nos passou ao lado e acabou por nos ferir, um dia depois, às vezes vários dias depois.

Não é só com as pequenas farpas de madeira ou com os arranhões que isto acontece. Às vezes, há outras feridas que só abrem mais tarde. Quando abrem, vêm lembrar-nos daquilo de que não demos conta no momento ou não quisemos dar. Feridas que surgiram por não darmos importância, no momento em que deveríamos tê-lo feito, a coisas que eram tudo menos inofensivas. Percebemos isso só depois, quando começa a doer. Então, recuamos no tempo e percebemos que nenhum esforço de memória custa mais do que o esforço que fazemos para seguir em frente com essa dor atrás.


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